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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Manifesto de fundação do Movimento de Ação e Identidade Socialista

Partimos dos sonhos conjuntos por disputar o país nas ruas, com os movimentos sociais, organizados por um Partido com vitalidade militante, contra os anseios neoliberais de pontuar o fim da história. Destes sonhos, a proximidade forjada no aprendizado cotidiano das lutas. Desta proximidade, uma unidade construída pelos caminhos optados e não pelos caminhos prontos.

O início do Governo do nosso Presidente Lula nos colocou dilemas contraditórios enormes. Como resposta a estes dilemas, diversas posições se colocaram no Partido e também entre a Juventude. A primeira delas procurava negar a disputa ideológica da qual resultava a hegemonia interna no Governo. Estes companheiros avaliavam que os movimentos sociais que colocavam sua força popular a disposição de nosso governo para fazer avançar as mudanças no país eram inimigos do nosso projeto. Equivocadamente, achavam que nossa chegada ao governo era a chegada ao poder do país. Ludibriaram-se com os afagos das elites, como se não fosse necessário acumular forças para as disputas futuras contra os interesses dos "donos do poder". Estes preocupavam-se em disputar o títulode maiores defensores do Governo.

A outra resposta se colocou numa crítica a partir de fora do Governo, numa postura de oposição permanente e sistemática a todas as ações do Governo, alinhando-se automaticamente às críticas de PSOL e PSTU, tantas vezes utilizadas pelos holofotes da grande mídia. Estes preocupavam-se em disputar a referência de esquerda. No exercício livre (mas muito distante da realidade) de afirmação vanguardista.

Nós, diferentemente, apostamos na disputa social, política e ideológica em todos os espaços possíveis. Inclusive no interior do nosso próprio governo. Sabemos que a superação do neoliberalismo não se dará tão somente por governos (que são importantes, e sobre os quais nos dispusemos, pelo bem do povo, a construí-lo através dele, também, um caminho de transformação). Contudo será também na luta do povo, na mobilização social, na disputa de hegemonia que construiremos o socialismo. Não cometeremos o equívoco de ignorar a importância que o Governo Central de um país tem nesse processo. Mas também sabemos que o Governo Federal não é feito apenas das vontades de um homem - vivemos numa República, mas sim de uma complexa conjuntura resultante de interesses, ainda pouco permeada pelas demandas e pela participação popular.

Por isso, desde o início desse novo momento, não titubeamos em defender o Governo do Presidente Lula. Mas não o fizemos acriticamente. Sabemos vislumbrar a correlação de forças para nela compreender os limites, para também fazer estes limites avançarem.

É por isso que temos insistido que a nós, Partido, cabe travar a disputa política. A nós, movimento, cabe pressionar e impulsionar as mudanças. A nós, militantes, cabe permanecer na luta social com toda a intensidade que um governo respeitador das lutas populares permite ao avanço da luta de classes e da redução de suas diferenças e conseqüentes injustiças. Representamos tanto a defesa do Governo, quanto um posicionamento firme de sua disputa pela esquerda.

Há 10 meses, teve início a mais grave crise que nosso Partido já atravessou. A crise, tão anunciada, pegou o Partido desmobilizado, burocratizado e distante das lutas populares.

Mas também as leituras da crise não são as mesmas. Infelizmente, alguns ainda preferem escamotear responsabilidades, misturando as duas faces da crise: a crise real (de valores, práticas e horizonte ideológico) e a crise imposta pela direita.

Como resposta a isso, afirmamos convictos: devemos rumar para a reafirmação do socialismo como nosso objetivo estratégico, como o elemento motivador da nossa militância e do PT. Não como figura retórica, mas como exercício prático - principalmente no exercício do poder. Para nós, o PT é dirigente, é de massas, é socialista. Para nós, a luta de classes é real e dela não podemos fugir. Para nós é na prática que se demonstram as verdades.

Somos jovens e optamos por dedicar os melhores anos de nossa vida à militância política, aos movimentos sociais, ao PT. E pela seriedade de nossa opção, pela certeza de que o PT é o instrumento estratégico da classe trabalhadora, não ficaremos na inércia diante da crise partidária, diante da força do capitalismo.

É por isso que nesse 13º Encontro Nacional do PT, ousamos oficializar o que é fato: existem diferenças profundas entres setores de nosso campo e elas precisam ser reconhecidas para que o debate se dê com transparência e seja útil à formulação plural do PT.

Queremos construir de maneira clara quais são nossos limites éticos, nossos caminhos ideológicos e o ritmo do passo de nossa intervenção na sociedade.

Queremos, nesse momento tão importante para o futuro da luta social no Brasil, informar ao conjunto do Partido a construção de um novo campo político de juventude que é uma ação afirmativa no sentido depressionar a necessária reorganização do PT e de consolidar nossa organização para as lutas que devemos enfrentar.

Somamos-nos ao esforço da Executiva Nacional em buscar a unidade partidária neste momento tão agudo de luta política no país. Colocamos toda nossa energia militante à disposição do projeto central deste momento político: reeleger o Presidente Lula!

Porém, é fundamental que este esforço efetivamente seja coletivo e solidário e que velhas práticas descabidas não continuem a partir de uns poucos dirigentes nacionais que, ao invés de efetivamente se preocuparem com esta pauta de unidade, parecem continuar a se debruçar apenas sobre os interesses de seus grupos políticos. E também sobre isto, pedimos apoio da Executiva Nacional.
Acreditamos que a juventude é estratégica para efetivação do projeto socialista, de transformação da sociedade. Não por sermos jovens, mas porque temos certeza que a transformação da sociedade, a alteração da cultura, o avanço da maturidade política de forma consolidada não são tarefas para, apenas, uma ou duas gerações de militantes.

As tendências são fundamentais para o partido, e devem se mostrar como um instrumento devalorização da democracia interna, não podendo seus membros caírem na armadilha de transformar nossa virtude em ponto de fragilidade, valorizando mais a construção das correntes do que a construção partidária. Estamos convictos que a juventude deve ter outra lógica, desprendida dessa disputa que não fortalece o PT, sem ousadia e sem inovação.
Por estarmos convencidos disso, estamos expondo um campo político plural de juventude que nos garante militância orgânica nas tendências que hoje estamos, mas que na juventude do PT, imprimirá uma nova lógica de debates, disputas, construção e intervenção na sociedade.

Nós estamos em MOVIMENTO. Mais do que bradar verdades absolutas, queremos nos constituir naAÇÃO militante. Apesar das diferenças, temos uma IDENTIDADE comum. E o nosso norte é o SOCIALISMO. Por isso, somos o "MAIS" e nos apresentamos ao PT como lutadores por MAISdemocracia, MAIS socialismo, MAIS PT e a oportunidade de avançarmos MAIS nosso projeto comMAIS quatro anos de governo do Presidente Lula!

Viva a juventude! Viva o PT! Viva a revolução democrática Latino-Americana! Viva a classe trabalhadora!

LULA OUTRA VEZ!!!

SEM MEDO DE SER FELIZ!!!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Goiás, situação critica

A cada de dia me impressiono mais diante a capacidade de se inventar uma história. Isso mesmo, desde pequenos crescemos ouvindo/contando/inventado histórias, de todos os tipos e sobre qualquer assunto.

Mais o pior tipo de história é aquela que escrevemos baseados no ‘achismo’, que francamente, não tem outra intenção se não, atentar contra a conduta de alguém. E pior ainda é quando você abre um jornal e vê em evidência, a mais pura fofoca política.

Me refiro a um artigo publicado hoje no jornal o Diário da Manhã, na verdade acho que o artigo em si nem merece ser levado em conta. Mais sim a intenção e a capacidade de  alguns políticos que insistem em defender a democracia, e usam de meios estorpes pra atacar rivais.

Tem a capacidade de atacar a índole de uma professora, sindicalista, trabalhadora. Inventando boatos de mais baixo escalão. Só pra constar a mulher pobre que morava em uma casa sem reboque não enriqueceu do nada, essa mulher trabalhou e estudou. Por mais que não aceitem que pobre pode fazer um curso superior, ela o fez. E trabalhou também, e se tornou professora da Universidade Estadual de Goiás. E a riqueza dessa mulher se faz na garra, na sapiência, no animo, na dureza que ela tem em excesso. O que se torna positivo, pois é exemplo na luta pela justiça social.

O crime contra quem luta ao lado e pelo povo não começou agora. Quantos não foram mortos pelos poderosos? E esse crime moral, não deixa de ser menos grave.

Mais essa prática política é bem antiga, e eu mesmo que não tenho um passado tão longo presenciei muitas campanhas de ódio e terror. Nesse caso, é notório a intenção da publicação, e nem é preciso ser de esquerda. Tanto que nas páginas seguintes desse jornal, a campanha Pró-Marconi é descarada. Sem imparcialidade, favorável a todos os projetos do atual Governo Tucano. E a necessidade da democratização dos meios de comunicação se torna mais urgente.

Para alguns jornalistas esquecidos do juramento :

Juro / exercer a função de jornalista / assumindo
o compromisso / com a verdade e a informação. /
Atuarei dentro dos princípios universais/    de
justiça e democracia,/  garantindo principalmente
/  o direito do cidadão à informação. / 
Buscarei o aprimoramento / das relações
humanas e sociais,/    através da crítica e análise
da sociedade,/ visando um futuro/  mais digno  e
mais justo/  para todos os cidadãos brasileiros./ 
Assim eu Juro

A Juventude Quer Viver!

Em defesa da juventude, contra o exterminio de jovens! Contra a redução da maioridade penal!


Fórum Goiano em Defesa da Juventude.

www.casadajuventude.org.br

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

IV Congresso do PT, por uma jovem mulher socialista - Louise Caroline



                                      
            É movida por um grande sentimento de orgulho petista que apresento aos companheiros e companheiras uma breve avaliação de nosso IV Congresso que antecipa uma não tão breve opinião acerca do período histórico que vivemos e viveremos nos próximos anos, quiçá décadas, a ser apresentada em texto posterior. Não é que o IV Congresso, por si só, abra uma nova janela política para o PT e a esquerda brasileira, mas podemos dizer que esse fórum partidário escancarou o que antes era apenas fresta.
            De início, registro a alegria do encontro com tantos militantes, amigas/os petistas, de todos os cantos do país e tantos cantos ideológicos, embalados por um clima de alto astral e esperança com os rumos da nossa política. O que vimos no IV Congresso foi a experimentação de um formato mais aberto, mais organizado, mais flexível, mais leve de tomar decisões coletivas.
            Éramos 1.350 delegadas e delegados, representando, portanto e aproximadamente, 1% da comunidade petista oficial do Brasil e, indubitavelmente, muitos milhões dos simpatizantes de nosso partido que já angaria 35% da preferência nacional. Ouso afirmar que, mais ainda, representávamos também a esperança da esquerda latino-americana, dos povos oprimidos na África, de uma social-democracia esfacelada na Europa: todos com os olhos voltados ao PT e aos próximos passos da revolução democrática que implementamos no Brasil e que contribui para os ventos progressistas tomarem conta de todo continente.
            Falamos do IV Congresso do PT, a maior instância de decisão do maior partido de esquerda da América do Sul. Instância tão superior que só foi convocada quatro vezes em mais de 30 anos. Falamos de uma Reforma Estatutária, que, comparativamente, é uma constituinte interna. E falamos sobre um processo em que a maioria numérica - da qual não faço parte, decidiu se abrir às possibilidades de uma maioria política, que não inclui todos os seus membros e que inclui membros de outras tendências e posições.
            Essa ousadia de setores do campo Construindo um Novo Brasil, encabeçados pela liderança do Presidente da Comissão de Reforma do Estatuto, companheiro Ricardo Berzoini, associada à disposição ao diálogo do segundo maior campo partidário, a Mensagem ao Partido, onde me organizo, e, ainda, somada ao tensionamento à esquerda dos setores minoritários, levou o PT a um Congresso em que qualquer coisa poderia acontecer. E essa possibilidade da democracia é instigante e fortalece a certeza de que o PT, com todas as suas contradições, é o espaço partidário que permite aos socialistas e à classe trabalhadora do Brasil depositar sua organização e esperança no novo mundo que mobiliza a nossa existência.
            A principal expressão dessa possibilidade foi a votação que decidiu limitar os mandatos parlamentares consecutivos, sem dúvida o momento mais disputado do Congresso e revelador da disposição do Plenário em renovar os quadros políticos do PT, limitar a força interna dos mandatários e, subjetivamente, revelar insatisfação com a forma organizativa que hoje domina o partido. A votação chegou a ser repetida três vezes e ao final a proposta modificativa obteve mais votos do que no início. Sem dúvida, muitos delegados da CNB, que através de Berzoini foi contra a proposta, apertaram o número 1 de seu crachá eletrônico e mandaram o recado de que, no PT, parlamentar não é posto, é tarefa. E que essa tarefa, como qualquer outra, pode e deve ser realizada de forma alternada e diversa. Orgulho tivemos nós, da Mensagem ao Partido, que apresentamos a proposta e a vimos sendo defendida com coragem por dois deputados federais, Reginaldo Lopes e João Paulo Lima e Silva, mais apegados à importância de renovar a política do que renovar seus mandatos.
            De toda forma, mesmo nessa votação, cabe ressaltar a qualidade das intervenções políticas. A defesa de Berzoini foi politizada, reflexiva e convincente. Assim como foi empolgante o embate entre Genoíno e João Felício que em três votações seguidas se contrapuseram acerca da relação dos Movimento Sociais com o PT. Confesso que ao final da fala de cada um deles, a vontade era votar a favor, mas fiquei com João Felício em todas as ocasiões, com a certeza de que via ali embates históricos sobre temas fundamentais e controversos à esquerda em todo mundo ao longo de todos os tempos.
            Que outro partido no Brasil debate essas questões, e ainda assim, abertamente, e mais ainda exposto a qualquer resultado? Vejam que João Felício e Genoíno são ambos da CNB, o que comprova que as cartas marcadas deram lugar a um debate de alto nível que precisa se reproduzir nos estados e municípios onde, infelizmente, o esvaziamento, os blocos estáticos e a prioridade - às vezes exclusividade - dos debates eleitorais ainda é regra.
            Uma coisa que gostaria de dizer é que considero fazerem falta os que saíram do PT para fundar o PSOL. Imagino quanto mais avançadas poderiam ser nossas resoluções se, mesmo numericamente pequenos, mais socialistas estivessem disputando as ideias de nosso IV Congresso. Por outro lado, talvez, a presença desses setores impedisse uma flexibilidade tão grande por parte do campo majoritário... Fica apenas o registro aos tantos petistas que se espremem no estreito e fraticida PSOL que o PT reapresenta possibilidades de disputa e que lugar dos socialistas é no partido referência da classe trabalhadora.
            Deixei para o final do relato as duas conquistas que mais emocionaram às mulheres e à juventude, que dirá a esta jovem mulher que escreve. A paridade de gênero e a cota de 20% para jovens não são, contudo, conquistas setoriais. São conquistas do PT. Mais ainda, são conquistas de uma nova cultura política para o Brasil e para o mundo. As lutas pela igualdade de gênero se concretizam quando uma mulher ocupa um lugar de direção antes pertencente a um homem. A renovação da política se concretiza quando um jovem é incluído no processo decisório. Hoje, o Diretório Nacional do PT, com 81 membros, não tem sequer um jovem! A partir do próximo PED, serão pelo menos 16. Qual o significado disso para o futuro do PT? Sem dúvida, mais ousadia e uma vida muito mais longa ao socialismo petista.
            Queria ter a capacidade de transmitir aqui a emoção que contagiou o Plenário nessas votações. Queria ter registrado a imagem de cada companheira que chorou no momento da aprovação da paridade. Principalmente as companheiras que há décadas lutam pela participação das mulheres na política e que sofrem o machismo cotidiano do espaço público, forjado no espaço privado. Jamais esquecerei o tom da fala da companheira Benedita da Silva, mulher negra que simboliza as portas da inclusão política abertas pelo PT, que também aprovou composição das direções fidedigna à composição étnico-racial de cada estado.
            Mas, principalmente, queria poder antever quantas beneditas, rosários, arletes e lulas iremos encontrar daqui pra frente, quando mulheres e jovens   puderem participar com mais igualdade e representatividade de nosso partido e da política brasileira.  
            É que além de ser uma medida inclusiva, esta também é uma medida de avanço progressista no conteúdo dos debates ideológicos. Mulheres, jovens, negro/as e indígenas, historicamente excluídos do processo político, tendem a se posicionar de forma mais ousada. Prova disso é que o PT aprova agora a paridade de gênero, coisa que a Juventude do PT já pratica há alguns anos. O Movimento de Ação e Identidade Socialista, tendência em que me organizo no PT, ao lançar chapa própria no último PED em Pernambuco, já trouxe metade de homens e metade de mulheres em sua composição. Nossa ousadia contagia!
As decisões do IV Congresso fazem do PT um exemplo para a Reforma Política que o Brasil tem debatido. Que partido defende voto em lista e faz uma lista antes pra seus processos internos? Que partido defende alternância de gêneros na lista fechada e já decide fazê-la pra sua própria organização? Que partido quer renovar a política e inicia renovando-se? Que partido defende a democracia e aperfeiçoa um processo de eleições diretas pra suas direções? Que partido ergue a causa do financiamento público de campanhas eleitores e cria um fundo partidário para financiar suas campanhas internas? Esse partido é o PT.
            Em tempos em que o suposto combate à corrupção serve de subterfúgio para a negação da política, nada melhor do que um partido vivo, democrático, participativo e coerente para reafirmar que a política só muda com mais política.
            Vida longa ao PT! Vida longa à luta socialista no Brasil e no mundo!
           
*Louise Caroline, militante do MAIS/PE, delegada da Mensagem ao Partido no IV Congresso do PT.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Miss, pra quê?

Sinto-me especialmente feliz por conseguir me indignar frente a coisas simples e relativamente bem aceitas pela sociedade. Um exemplo são os tradicionais concursos de miss. 

Quantas mulheres, ao longo da história, dedicaram suas vidas a combater o machismo, a conquistar o espaço que temos hoje. Mulheres que viveram e enxergaram além do seu tempo e, por isso, foram estigmatizadas, hostilizadas e sofreram todas as "sanções sociais" possíveis. 

Hoje, procuramos nos qualificar profissional e intelectualmente. Aprendemos idiomas estrangeiros para alcançar novas culturas e novas oportunidades - não, apenas, por ser obrigação de uma moça fina. Batalhamos, todos os dias, no mercado de trabalho, para receber, no mínimo, o mesmo salário que os homens, ao executar o mesmo trabalho. Brigamos em casa para que nossos companheiros dividam as tarefas domésticas e, consequentemente, compatilhem conosco o "terceiro expediente". No trabalho, elogios e assédio ainda se confundem e as dúvidas sempre pairam sobre quem não se submete. Afinal, é mais fácil encontrar uma subalterna vadia, do que um chefe tarado. 

Nosso corpo é só nosso e, por isso, temos que brigar, ainda, com a Igreja e com o Estado, para que compreendam isso e nos permitam cuidar dele como nos convenha. Por falar em corpo, temos mesmo que cuidar dele muito bem, porque há grandes chances de sermos discriminadas, caso estejamos muito distante dos padrões de beleza. Quantas são admiradas por serem chefes de família, por criarem seus filhos e serem mães e pais ao mesmo tempo? Tenho a certeza, também, de que hoje as mães sonham que suas filhas ocupem, em igual quantidade e qualidade, cargos de chefia, diretorias, presidências. Poucas décadas atrás, o principal anseio das mães para felicidade de suas filhas era mais difícil de alcançar: que fizessem um bom casamento (seja lá o que isso significasse), tivessem muitos filhos e fossem felizes para sempre. 

Em meio a todo esse contexto, vemos concursos de beleza de todo tipo. Miss disso ou daquilo, musa, garota, rainha, princesa. Desfilam, dançam, respondem abobrinhas, coisas ridículas e medíocres ou, no mínimo, memorizadas e falsamente vomitadas ao microfone. São ridicularizadas, servem de chacota, seja por serem bonitas e terem falado absurdos, seja por não cumprirem com os padrões - locais ou "universais" - de beleza imposto nos concursos. No final, a vencedora ganha uma faixa, um cetro e uma coroa. Acena doce e passivamente à multidão, chora de emoção, agradece, vai embora. Em resumo, representa tudo o que sempre nos tentaram impor e que esbravejamos para não permitir. Aceitam pacificamente discriminação social e racismo evidentes em TODOS esses concursos, e assumem, tacitamente, que a beleza é o que uma mulher pode oferecer de melhor. Afinal, o que mais elas oferecem nesse concurso? Habilidades? Conhecimentos? Cultura? 

Esse ano, o Miss Universo acontecerá no Brasil. Para quê? Não precisamos de uma rainha, temos uma presidenta eleita pelo voto direto. Já colocamos a faixa no peito de uma mulher que não é bonita, não é jovem, nem loira, alta e magra. Tem o corpo castigado por lutar pela democracia e pelo povo do seu país. Por não ser doce, dócil, passiva, submissa, tem fama de ser dura, fria, grossa. E, no Brasil governado por esta mulher, tantas outras morrem assassinadas por seus companheiros; morrem de parto ou de complicações por aborto inseguro; são violentadas e exploradas sexualmente; trabalham no campo e na cidade, em casas de família, na informalidade e não têm seus direitos trabalhistas respeitados. Para que uma rainha da beleza, se temos mais de 22 milhões de mulheres chefes de família. Em nossa História, recente e remota, temos tantas mulheres que nos orgulham e nos fazem acreditar que vale à pena lutar por um mundo melhor. Não, definitivamente não precisamos de títulos como esses. 

Por tudo isso e em respeito às mulheres do Mundo, eu não assisto ao concurso de Miss. E você? 

Marília Arraes, vereadora do Recife pelo PSB

Carta do 1° Encontro de Mulheres da UBES

 O Dia 1º de Setembro de 2011 entrou para história do movimento estudantil brasileiro, quando foi realizado o 1º Encontro de Mulheres da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas - UBES.
 Entendendo que o machismo faz parte da realidade dos brasileiros e brasileiras e que, tal realidade, tem total aproximacão com a lógica da desigualdade, a UBES sentiu a necessidade de envolver as militantes e os militantes do movimento estudantil de cada canto do Brasil para combater a repressão à mulher na luta estudantil e na sociedade.
 O machismo, que insiste em pregar a subordinação da mulher, faz milhares de vítimas da violência física e psicológica ao redor do país. As políticas públicas para a mulher precisam avançar mais e ganhar efetividade na prevenção da violência através da conscientização e da aplicação real da Lei Maria da Penha.
 Muitas de nós ganham menos que os homens. O número de creches é insuficiente para que as mulheres possam deixar seus filhos e, ao mesmo tempo, ganhar o pão de cada dia.
 Não é verdade quando dizem que a mulher, nos dias de hoje, tem sua independência reconhecida. A questáo do aborto é tratada segundo o viés moralista e não como uma questáo de saúde pública. A proibicão do aborto significa a criminalizacão de milhares de mulheres pobres que, sem condicões de realizar os devidos procedimentos para essa prática, acabam figurando nas estatísticas de óbitos.
 A eleição da primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Roussef, é um grande avanço na luta das mulheres brasileiras. Porém, sabemos que ainda há um longo caminho a percorrer para que o número de mulheres na política faça alusão ao fato de sermos mais da metade dos votos deste país. O atual sistema político é falho e segrega. Exigimos uma reforma política que aponte para a superacão da histórica exclusão das mulheres nos espaços de gestão e deliberação.
 Nossa sexualidade não é respeitada e nos confundem com objetos, como garrafas de cerveja e roupas de grife. Somos vitimas do consumismo que nos bombardeia com propragandas que pregam o modelo de mulher da vitrine. Na luta pela igualdade, somos muitas vezes estigmatizadas e reprimidas no seio familiar e na escola.
Nossa luta pela emancipação feminina, a partir de hoje, ecoará mais forte em cada sala de aula. A educação de qualidade popularizada, a democracia plena, a felicidade do povo florescerão da luta das mulheres que representa também a luta contra a histórica desigualdade dos povos do mundo.
 A UBES somos nós, mulherada aqui tem voz!

Brasília, 03 de Setembro de 2011

União Brasileira dos Estudantes Secundaristas